domingo, 16 de agosto de 2015

Moldador [de sonhos]



À noite,quase sempre
vem acompanhada da insônia,
que me impede de cair nos
braços da divindade...
Deus alado,que suavemente me
 acolhe em suas grandes asas.
Deita-me em seu leito de ébano
forrado de flores...
Seca meus olhos,
Anestesia meus tormentos,
aninhando seu corpo ao meu...
Absorvendo-me no mundo
dos sonhos...
Libertando minha alma.


                                               Marcia Portella

domingo, 2 de agosto de 2015

Versos seus





Em uma tarde de inverno
com o vento mostrando 
o caminho e a chuva 
cortando o ar...
Vou à seu encontro vestida
de poesia em estampas de 
versos seus,que são como sonhos,
dentro dos sonhos meus...
Cada um dos meus poros estarão
explodindo,faiscando em milhares  
de luzes de todas as cores como
um néon intermitente...
Enredada nesta profusão de cores,
sou leve sombra perdida...alma 
agonizando em despedida,
saindo invisível na madrugada fria...

                                   Marcia Portella

Seu mundo...







E seu mundo conheci a paixão...
Rasguei dores em serpentinas na 
cadência ousada de seus poemas...
Me atirei em seus braços colhendo
suas doces rimas...

Sonhei seus sonhos,descobri
 seus mistérios,amei seus pecados,
dancei sua música...
Fui coadjuvante em sua cena.

Perdi-me em seus alentos
Queimei em fogo ardente,fui terra
umedecida por sua seiva regada,plantada
em semente,germinada em madrugada...

Colhi sua luz,anseios e voos de liberdade.
Envolvi-me em sua felicidade triste...

Virei-me do avesso transformada em uma
versão desesperada de mim...
Cansada resvalei um beijo em seus lábios...
Despedindo nós dois...

                                        Marcia Portella

Sutil





Não sei como tudo começou.
Acho que devagar,de maneira sutil;como
um blues que entra suave embalando
em ritmo sonolento...
Como pisar em areia movediça,
sabendo do perigo...pisando leve 
na ilusão da volta...
Aventura,terra desconhecida,
Amarras soltas,farol apagado,
Ser prisioneira...aprisionar em 
uma só algema trancar...
Entre fachos de lua donzela procuro
minha alma arrebatada apenas,
por um olhar difuso...
A paixão vem em garras afiadas
rasgando a razão,deixando um 
rastro rubro de insanidade...
Liberdade ...não sei...talvez um intento
 de momento em algum lugar...
Da razão fria

                                                Marcia Portella

Tarde de verão






Em uma tarde de verão, você curvou
suas asas sobre mim me engolfando
em um silêncio triste...
Não me reconheceu pois meu rosto 
agora... é ilusão.
Não sou feita de matéria mas de sim
de memórias onde corpos parecem 
fumaça,e almas arrastam-se carregadas
de saudades e lembranças... 
A memória, traz um cheiro antigo de igreja
silenciosa onde raramente celebram cultos;
o musgo cresce nas paredes onde
tentáculos de heras invadem vitrais coloridos;não ouço o sino bater,o órgão...
A pia batismal está manchada de esquecimento...
Entro no confessionário vazio,onde não confessei meu amor que demorou no ar dançando à minha frente, como se fosse uma palavra proibida...
Sinto a embriaguez dos momentos passados transbordando com gosto do vinho que brindamos em outros tempos;lembro com saudade de suas asas que em uma tarde de verão, curvaram-se sobre mim.


                                                Marcia Portella

Malhas trançadas




Sob a pequena luminosidade do
crepúsculo,seus olhos eram como
 jóias brilhantes incendiados de luz...
Meus olhos perderam-se nadando
na trêmula lagoa do seu ansioso olhar...
Era como se visse minha saudade
oculta identificando-se como sua
saudade explícita...
Com a paixão em servidão que
arrasta qualquer um que nela persista;
na escuridão dos sentimentos, por 
trás da cortina rendada de meus olhos,
 sinto como se algo fosse apanhado na rede
afogando entre ondas...
Em um mar vasto e inexplorado perco-me;
Entre malhas trançadas...


                                                   Marcia Portella

                       


Evidências



A lua com sua luz perolada
atravessa  claraboia... 
Vejo minha sombra na vidraça
voando como uma borboleta  no
jardim da memória...
Meus sentimentos esparramam 
como peças de quebra-cabeça que 
e aos poucos vai formando minha figura,
 entre cartas,retratos e o gosto de usado...
A sombra da saudade me cerca congelada, 
tão próxima,que sinto seu sopro gelado.
  Vendo o passado sendo filtrado 
nos olhos do  presente
Apago a luz...

                                                       Marcia Portella

Adeus...




As pestanas repousavam em sua face
como um leque negro.
Sua sombra pareceu deslocar-se
do corpo e passar por minha pele
como se fossem mãos divinas...
Seus olhos me atravessaram
e seguiram além;até um lugar
de sofrimento,um inferno íntimo
que não me era dado penetrar...
Neste momento você se tornou
o canto ilusório de uma poesia  em 
um silêncio que feria meus ouvidos;
parecia uma figura medieval encerrada
em esguia catedral...
Com seu amor,tomou-me pela mão
e ao sentir seu calor foi como se escuro
 tivesse vida,tivesse forma,tivesse gosto,
 e não fosse nem dia nem noite.
Com sua voz na minha disse:
Adeus...

                                                     Marcia Portella

Fascinação




Poesia que plana leve,alva,
pena de prata ao luar...
Acaricia o amor na despedida
em melodia muda,surda,
embalada por acordes menores
 que a brisa sopra...
Provocante sussurra 
segredos suaves,doces,
perpetuamente encantados...
Pluma branca,fascinação que o céu
 derrama no inverno do tempo,
   escondendo sua essência que
 pulsa docemente oculta,
Na cortina do universo...

                                             Marcia Portella

Quando ele parte




O amor sempre morre...
Num final de tarde,
Em uma nesga de tempo,
Num rasgo de desilusão
de forma tempestuosa 
entre lençóis...
Morre no silêncio das vozes,
Em ecos solitários,
Perambulando por praças,
cinemas,ruas escuras
Na inércia dos sentidos...
O amor morre restando apenas
o rastro de um leve beijo nos cabelos
e o ruído doloroso da porta,
Se fechando...


                                                 Marcia Portella

Espiral




Talvez eu te procure com a pele ardendo
 em açoites,serpenteando enrolada em
 espiral,à procura de um atalho para que
 sigamos mais que sombras no amar.

Vou surgir em corpo esguio de  bailarina
 cabelos negros abundantes de matizes
  espalhados em intrincados espirais...

Trarei o incensário em fogo com aromas
  esvoaçantes em enxames de sensações...

Juntos em giros e carícias múltiplas faremos
o caminho inverso no tempo, sombreados
na travessia do breu ,exalando versos,
Que recolho ao amanhecer...


                                                Marcia Portella