domingo, 27 de setembro de 2015

Voz calada




Apesar da luz que irradia,
sinto que entrei em um mundo de
 sombras,recolhida no silêncio com
uma cortina de tule descendo
diante dos meus olhos...
O grito mudo de sua ausência some
espantoso entre as paredes ...
Ouço sua voz calada, sua respiração;
te amo no desespero dos aflitos...
Vejo seu caminhar no vulto encolhido,
solitário,que passa com os braços soltos
nos lados como anjos caídos...
Sozinha, cruzo as mãos em prece.
Cerro minhas pálpebras_borboletas
cansadas de dançar entre flores inquietas...
Velas acesas despejam sombras nas paredes.
Lamento como uma carpideira
 entoando ladainha.
Em desespero,brado em gritos infames
entre velas e flores;...não posso
 ficar parada no tempo!.
Entrego nossas almas à esteira rolante da 
da eternidade desço o véu.
Sigo em sombra...


                                                     Marcia Portella




Quieto silêncio




A tarde fervilha de libélulas em
rodopios ensandecidos...
O último raio de sol escorre do céu
brilhante,com suas pontas afiadas.
Sinto neste instante o tecido da vida
me coser em alinhavos de saudades...
Vejo o sol se por envelhecendo o dia, 
e os sonhos na tarde que finda...
Com o vento,lâmpadas suspensas
balançam criando um jogo de sombras
onde reviso o passado como um extenso
rolo de filmes antigos...
A memória acorda,cessa o vento, 
e transforma a vida em...
Quieto silêncio.


                                                  Marcia Portella

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Vida



Ah...vida bendita
Abriu minhas feridas
Cortou minhas asas
Acolheu minhas dores
Suavizou meus desatinos
Abraçou meus desenganos
santos e profanos...
Navegou meus mares
içando sua vela
levando meus fados...
Vida que é outra de mim
sem você será...morte
Fim...

                                    Marcia Portella

Longas folhas




Na janela,aperto-me
de encontro ao vidro
como uma planta de 
longas folhas...
Com as mãos espalmadas
busco num grito mudo 
fugir da saudade
Que vive em mim...


                                  Marcia Portella

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Fados


Jogar o barco ao mar.
Ouvir seus murmúrios
inquietantes...
Levantar o corpo vergado
em lamentos guardados.
Sentir a primeira estiagem
após longa tempestade...
Plantar asas no dorso.
Planar sobre as águas cantando
as dores de todos os fados.
Derramar no profundo pérolas
desgarradas que um dia
foram grandes ondas que
  desmancharam...
                          Em prais caladas.

                                                   
                                                                             Marcia Portella