sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Vidas



Podem imolar,apedrejar
Não sou mártir apenas 
quem tirou o véu e disse-não!
Viajo no tempo à séculos.
Sou mito transfigurado em
pecado eterno...
Valquíria em seu cavalo alado
recolhendo despojos de guerreiros.
Medusa presa,desfigurada com
maldição no olhar...
Queimada como feiticeira.
Castrada em meus desejos.
Santa,Madalena,guerreira.
A que invoca nos santuários frios
 à sombra das velas.
Que blasfema nas ruas consumida
na escravidão da noite.
Tigresa de garras afiadas.
Santarrona dos confessionários.
Beata enclausurada em lamentos.
A face oculta do mistério.
O único mortal que dá à luz
ou escuridão .
                       Sou mulher...

sábado, 5 de novembro de 2016

Voz calada




Apesar da luz que irradia,
sinto que entrei em um mundo
de sombras, recolhida no silêncio,
com uma cortina de tule descendo 
diante dos meus olhos.

O grito mudo de tua ausência some
entre paredes em espantoso silêncio.
Ouço tua voz calada,sinto tua respiração,
amo com o desespero dos aflitos.

Vejo teu caminhar no vulto encolhido,
solitário,que passa com os braços soltos
nos lados como um anjo caído...

Sozinha, cruzo as mãos em prece,cerro
minhas pálpebras-borboletas cansadas
de dançar entre flores inquietas...

Velas despejam sombras,lamento como
 uma carpideira entoando ladainhas.
Em desespero brado em gritos infames-
não posso ficar parada no tempo!

Entrego nossas almas à esteira rolante
da eternidade,tiro o véu...sigo em sombra 


Marcia Portella


Fhotografher_Incvar Igor

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Crepúsculo




Vivo na fúria dos ventos
Na densidade da solidão
Na explosão do vulcão que
ofusca o crepúsculo...

Entorpecendo sentidos,
crivo sonhos raiados no
emaranhado das cores 
do horizonte que a noite
apaga em sublimação...

Morro na fronteira da luz
 e escuridão me desfazendo
como uma aquarela rasgada 
flutuando do ocaso à aurora


                      Marcia Portella

                                                                                Go_sete de julho de 2011

Imagem_Tunber

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Camicase



Ao cerrar os olhos,imagino
quantas dobras de memórias
terei que atravessar antes de 
encontrar sua lembrança...

Minha alma cai aos meus pés
como galhos de salgueiro fazendo 
com que pense ter todas as idades...

O cansaço da espera torna-se um
um beijo partido,um vácuo no tempo.

Sem controlar a lucidez,permeada de
loucura,voo direto para a luz vaporosa
com a precisão de um camicase...

Ao explodir trago na noite a sensação
de um inverno quente, e um silêncio...
Ensurdecedor.


                                   Marcia Portella

                                                     


Imagem_ Fredrico Benner

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Fragmentos



Partiu sem tempo de dizer adeus.
Calada,com o sal ardendo em minha
boca selada,criei a fantasia da despedida
ciciando poemas que não foram
poetizados, sentindo minha paisagem
interna esmaecida sem saber se está
em mim ou foi contigo...

Quem sabe lentamente já esteja morta,
sem entender,sem saber onde colocar
os olhos,as mãos, por onde andar, ou então
esteja na ponta do meu olhar o que não
 ousei ver,falar e sentir...

Nada mais importa se tudo agora soa
falso,se me alastro em busca de um gemido
saído das sombras,de um brilho
num olhar agora...opaco.

Quem sabe ainda escute seus passos
trazendo a melodia final no compasso
descompassado da dor...


                              Marcia Portella

Foto_Web






sexta-feira, 15 de julho de 2016

Eletrizando



Passou eletrizando
todas as cordas.
Tocando todos os sons,
trazendo a saudade
em arrepios de notas
melancólicas...
Rompeu a melodia 
do tempo
Solfejou segundos,
minutos,horas,
compôs lembranças...
Tornou-se miragem 
regendo poesia antiga.
Arfou em loucuras
Revirou mortalhas
Descobriu segredos
Ficou nua no frio
da saudade.
Lavou a alma em 
ventos de areia.
Amou...

                                        Marcia Portella
PHOTO АЛЕКСЕЙ КРИВЦОВ

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Espera




À meia-luz entre as frestas da cortina,
contemplo o agito das pessoas
e dos michês no início da noite.
Vejo você chegando todo de branco
parecendo uma escultura de cera
à luz do luar...
Afoga-me em seus braços
  abraçando-me como se quisesse
me esvaziar por dentro...
Sua voz macia, envolvente,soa como
o lamento de blues crescendo até 
que cada movimento,cada corda,
  nos encontre em harmonia ...
Um flash de luz néon rasga à noite
mostrando com sua luminosidade nosso
 reflexo unindo,fundindo,derretendo, 
o amor generoso que derramou em 
meu ventre, como a lua sobre a terra...
Ao lhe deixar,viro a cabeça como se fosse
enfiar embaixo da asa;como um pássaro
que está dormindo...
Deixo o amor com a cor do vento...


    
                                      Marcia Portella

Imagem_AlterEgo

domingo, 5 de junho de 2016

À procura



  
Ela faz um poema para que
 a sombra que acompanha seus
 momentos de alienação leia..
A sombra se retrai temerosa,
não quer entrar em um mundo
de divagações e buscas...

Com os olhos pesados de sono ela 
 vaga em meio as águas indo além; 
na tentativa de descobrir seus
 segredos no abismo dos pesadelos...

Posta-se em vigília temendo 
escorregar na senda estreita da
 mentira,que a leva a condenção
  do inferno soltando o mal; névoa
 que rastreia urnas proibidas...
Em estreitos caminhos.


                                    Marcia Portella


                        

     Imagem_Web                               

domingo, 22 de maio de 2016

Jazz




Notas ressoam em pálida
vibração audível deslizando
 nos sentimentos, em leve
 roçar de murmúrios...
Acordes fogem da harmonia.
Sons crescem descompassados
ecoando desejos em
fôlegos esparsos...
Notas suaves serpenteiam em  
arpejos, à embriagar sentidos.
Corpo canta,sibila, soando em 
ritmo afinado...
É música noite à dentro.
No descanso...um jazz sonolento.

                           Amanhece...


Marcia Portella

 Foto _Tumbir
Go_ 12 de novembro de 2009
           
                    

                                      
             

terça-feira, 26 de abril de 2016

Clausura



No santuário da alma,
confesso sentimentos
 mesclados do sagrado 
ao profano...
Peço absolvição sentindo 
o perfume que exala do
incensório da nave fria,
da minha capela.
Em comunhão solitária
invoco o amor, sorvendo a
hóstia que contém 
sua essência...
Em clausura,ungida com
óleo sagrado apago velas
esguias,que derramam lágrimas
 de fogo na penumbra...
No silêncio pesaroso que paira
no ar cerro as portas, com o 
céu e inferno ampliados em mim.
Santa...insana

Marcia Portella



Goiânia_9 de outubro de 2009

hotographer Ilona Pulkstene





sexta-feira, 22 de abril de 2016

Lunar




Com a suavidade de um suspiro,
a melodia chega leve,tocando cordas,
acariciando,encrespando em arrepios
dando um toque de swing no blus.

Em seguida cai na melancolia da
 paisagem lunar.
A música espreguiça na lenta 
planície sem fim,além do que acaba
o mundo ressoando em notas,
ritmo e cadência...

Á medida que o crepúsculo cai,
notas recaem sobre a pauta,
bafejando fogo em todos os sentidos,
cruzando a estrada que a lua abre,
em luz e sons...

Sensações correm nas veias que
ao gotejar,abre-se em flor orvalhada;
nessa noite onde tudo pertence...
Ao descompasso.


                                   Marcia Portella


Imagem_Tumber
                         

                              

  
      
                                        


segunda-feira, 11 de abril de 2016

Déjà vu



No silêncio...sinto sua presença
esbarrando em meu vazio.
Uma visão rápida...um déjà vu,
como se uma porta fechada abrisse
de repente.
A tarde é banhada por uma luz pálida,
anterior a todas as luzes do mundo.
A brisa reforça,as árvores inclinan-se
suplicantes; o jasmim exala em 
 espasmos perfumados.
Olho no céu e o vejo entre nuvens
como Zeus, em um pintura alegórica.
Minha alma brota do corpo em verde
haste;indo à seu encontro na vastidão
do céu esvoaçante,ágil no arrepio da
Imaginação...

                                         
Marcia Portella

Imagem_Vetor

quarta-feira, 23 de março de 2016

Retrato do poeta




(In memoriam ao poeta Roberto Romanelle Maia  )
Não o encontro neste retrato.
Em seu semblante,tem um sorriso
que não é seu...
Seu olhar é vivo,apaixonado pela vida
  ás vezes com uma luz tão intensa, que
parece insano...
Tem um quê de impaciência como
se tudo tivesse que ser imediato até
no amor;mesmo que não seja sensato.
Em sua irreverência nem sempre 
é compreendido e  á vezes... odiado.
Sua imagem tem olhos ansiosos,cabelos
despenteados,nervos à flor da pele.
É irônico,acido,mas sabe ser doce e suave
como um vinho de paladar macio e aveludado.
É um dínamo que impulsiona,deslocando
a paixão,transitando pelas múltiplas
áreas dos sentidos.
Retrata a solidão ecoando poemas, com
a força inesgotável do amor.
Divaga fascinado, saboreando as eternas
nuances do sagrado ao profano...
Gladiador sem armas,luta com as palavras
na esperança que seus sonhos sejam realidade,
ao alcançar o oculto,quando sua alma imortal
ganhará a liberdade e seus poemas... 
A eternidade.


(...............)


                   Marcia Portella

Imagem_Betina La Plante


segunda-feira, 21 de março de 2016

Retornei




Não falo de mim
ou de saudade...
Minhas palavras ,
adormeceram no tempo
onde tudo é remoto,
e nada coincide.
Nunca fiz perguntas,
nem respondi.
Apaziguei ventos.
Segurei tempestades.
Carreguei o peso dos anos,
retida entre paredes invioláveis
onde tudo era secreto...
O que sei de mim...esqueci.
Tudo é branco,frio e plácido
como o inverno.
Sem desenganos questionar,
porque calei,onde estive,
se desatinos cometi...
Não sei!
Mansamente em mim retornei
                                   


                                                   Marcia Portela


Imagem_Web


domingo, 13 de março de 2016

Entre brumas




Entre brumas te vi passar
pálido,como seus cabelos
cheirando a mar...
Seus olhos marejados
diziam que, ainda que
seu corpo estivesse ali,
nesse momento seu espírito
naufragava,em plena tempestade,
 num mar escuro e gélido...
O áspero quebrar das ondas
e o contínuo murmúrio
cavernoso do mar gritava alto
sua emoção, tão muda,quanto
cicatrizes em um alma,que partiu
inteira e voltou faltando pedaços...
Ao sentir que partia,meus lábios
tremeram,frágeis, como uma rosa
à beira do colapso...
Meus olhos derramaram mar.





                                                Marcia Portella

Tela_Casper David Fredrich

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Ás vezes





Às vezes
Tenho vontade
de estar com você.
Tenho outras
de lhe esquecer.
Vontade 
De ser fiandeira 
do seu destino.
Fuso
Que lhe faz linha.
Novelo
em que se enrola.
Tesoura que corta.
Vontade 
de ser sua casa
Outras
De trancar a porta
                   despedindo nós dois


                                    Marcia Portella

FotoLittle Boat

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Lembrando com saudade




Saudade do que poderia 
ter sido,mas não foi..
Saudade do riso calado
Do cinismo em poemas
salpicados de amor irônico.
Da música que não dançamos
No toque que não aconteceu, 
na distância velada do existir....
Da espera na ilusão de fingir que
 era só um acaso a ponto de ficarmos
saturados,respirando lentamente
Em prazer doloroso,
Enxugando lágrimas
Penteando cabelos
Arrastando palavras
como cobras loucas
no breu quente 
da noite que grita...
Saudade!


                                    Marcia Portella



Foto_Lora Palmer

sábado, 30 de janeiro de 2016

Adormeço



Peço que me ouça...
Minha alma adormece no seu amor
e desperta com suas carícias.
Não espero que lágrimas de silêncio
tragam a fascinação da promessa...
No seu calar,concorda com minha
loucura que se faz em grandes asas
sobrevoando o deserto...
Na madrugada,rastejo qual serpente
emplumada entre ondas de areia e brisa
que brincam,escondendo minha alma do
  vento que vem em fúria implacável
chamando,atraindo-me,querendo afogar-me
 em ondas desdobradas de paixão...
À noite nasce no crepúsculo da ilha de
minha alma gemendo em ecos perdidos.
Sinto o rosto iluminar-se como o dos santos condenados com sua auréola dourada.
Estou só...


                                   Marcia Portella


  Imagem_Francine Van Hove        




quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Queda livre



No voo do pensamento, lancei-me
 em queda livre.
Fui surpreendida enquanto passavas
como o vento.
 Em teus olhos, senti que cintilava
 algo ansioso.
Nas sombras tentei capturar 
tua alma, descuidada na armadilha
do tempo me perdi...
Tua luz feito ouro líquido espalhou-se
em meu caminho,entrando devagar
 como feitiço em minha pele,roubando
minha alma,sem que percebesse...
Só de me sentir enlaçada no invisível que
  nos unia,fazer parte de tua ilha;fui feliz.
Desatenta, diluindo-me aos poucos qual
lágrimas de vapor, senti teus passos
perderem-se no vazio...
Tua expressão fria tornou-se aguda,
parecia congelar tudo ao meu redor.
Com um último olhar, tentei te atrair
como mariposa na luz fugaz mas,
fugiste deslizando entre lágrimas.
Teu vulto na senda dos sonhos escorria
entre meus dedos como se fosse líquido,
senti neste momento... que te perdia...
Fui fogo-fátuo em explosão de tormentos
e sob a forma de luz difusa...
            Submergi de tanto amar


                                              Marcia Portella
_black_and_white_photos